Em 10 dias, eleitores de todo Brasil irão às urnas escolher seus candidatos a vereador e prefeito. Mas a decisão de cada voto está diretamente ligada ao nível de influência dos grandes líderes da política brasileira, a exemplo do presidente Jair Messias Bolsonaro (Sem Partid0), que tem fadado seus apoiados ao fracasso nas urnas, já que não participou efetivamente das costuras de alianças. Entre os escolhidos por Jair Bolsonaro, estão Celso Russomanno (Republicanos) em São Paulo, Coronel Menezes (Patriota) em Manaus, Capitão Wagner (Pros) em Fortaleza, Bruno Engler (PRTB) em Belo Horizonte e Marcello Crivella (Republicanos) no Rio, ao que se nota, todos estão patinando em pesquisas, ou pior, perdendo prestígio e apoiadores por conta de tanta exposição negativa do presidente.
Os resultados das pesquisas de intenção de voto até o momento, porém, não indicam um impacto decisivo do apoio de Bolsonaro. Alguns dos políticos respaldados pelo presidente estão em queda nas pesquisas, e outros não têm chance de ir ao segundo turno.
Isso se deve à dinâmica das eleições municipais e às particularidades políticas de Bolsonaro, como não estar filiado a nenhum partido, a falta de candidatos bem posicionados e explicitamente vinculados ao presidente. “Talvez isso explique a falta de prestígio eleitoral que ronda Bolsonaro nessas eleições. Presidentes bem avaliados publicamente se tornam bons cabos eleitorais, e os menos populares ou contribuem diretamente para o fracasso ou se ausentam da disputa para prefeito”, comenta o cientista político e marqueteiro, Ademir Lima, o Mago.
O comportamento social reforça a decadência do prestígio político do presidente, que começou a ter dificuldades de manter o favoritismo depois que deixou o PSL, partido pelo qual foi eleito, em novembro de 2019, e tentou criar uma legenda própria, o Aliança pelo Brasil, que não obteve ainda o número de assinaturas necessárias para ser registrado como partido na Justiça Eleitoral. Além disso, apesar de ter se aproximado do Centrão, o presidente não governa formalmente coligado a outras legendas.
É ilusão imaginar que as eleições municipais de novembro serão um plebiscito sobre o governo Jair Bolsonaro. A história e as pesquisas confirmam que disputas locais estão discutindo soluções para buracos de rua, a falta de remédios no posto de saúde e o ônibus que chega tarde, cheio e custa caro. Mas se esta não será a eleição de Bolsonaro, é muito provável que seja a do julgamento da Nova Política. O movimento da antipolítica que em 2018 elegeu Bolsonaro, meia dúzia de governadores e quase uma centena de deputados federais terá seu primeiro teste no próximo dia 15 de novembro.
O fraco desempenho dos poucos candidatos apoiados pelo presidente pode encobrir um efeito indireto dele na campanha municipal deste ano: favorecer a expansão de candidaturas de direita, mesmo que não explicitamente ligadas a Bolsonaro, pondera Mago.
Para os cientistas políticos goianos apesar de as pesquisas indicarem que candidatos apoiados pelo presidente não estão decolando, Bolsonaro é responsável por um alinhamento de valores conservadores que estavam dispersos antes da sua vitória em 2018, e que hoje está sendo explorado por diversos políticos. A exemplo do candidato a prefeito por Goiânia, Vanderlan Cardoso (PSD), de Janayna Wollp Lúcio (PSC), postulante à prefeitura de Itaberaí, Edmário Barbosa (Cidadania), de Ceres e de Valdeir Rezende (PSC), a maior promessa de renovação no município de Lagoa Santa.
“Estes candidatos não precisam citar Bolsonaro, nem de vídeo de apoio, a alinhamento de valores já é o suficiente para mobilizar o apoio a políticos desse campo, nem aparecer abraçado com ele ou citá-lo explicitamente. Basta eles defenderem essas posições”, afirma o marqueteiro político e cientista político Ademir Lima, o Mago.
Expansão da direita?
Se esta não será a eleição de Bolsonaro, é muito provável que seja a do julgamento da Nova Política. O movimento da antipolítica que em 2018 elegeu Bolsonaro, meia dúzia de governadores e quase uma centena de deputados federais terá seu primeiro teste.
Em 2018, não ser político era um bônus, uma prova de que o sujeito não estava envolvido em desvio de dinheiro público. Dois anos depois, os resultados pífios da administração de Wilson Witzel (Rio de Janeiro), Romeu Zema (Minas Gerais), Carlos Moisés (Santa Catarina) e Ibaneis Rocha (Distrito Federal) revelaram o risco de se apostar na renovação a qualquer preço. No combate à pandemia de Covid-19, a inexperiência administrativa, o gosto pelos factoides e a falta de coerência fizeram os Estados com governadores novatos terem mais problemas do que aqueles com políticos tradicionais.
O ambiente político também mudou. A eleição de 2018 foi uma catarse. O brasileiro era um eleitor raivoso, pronto a usar o seu voto como uma arma para expulsar os velhos políticos. Agora, o que se sente nas ruas é preocupação e medo do futuro, sentimentos que favorecem candidatos mais conhecidos e prefeitos no cargo. A renovação deixou de ser um bônus. Esta será a primeira eleição com proibição de coligações nas candidaturas proporcionais. Acabou o sistema no qual o eleitor votava no candidato do partido X e ajudava a eleger o do partido Y. Agora, ao votar no candidato do partido X, o seu voto só contará para o partido X.
As eleições municipais não servem para antecipar o pleito seguinte, mas influenciam como os candidatos e partidos planejam suas próximas campanhas. Uma vitória de candidatos pró-Bolsonaro nas regiões mais pobres vai confirmar o poder do Auxílio Emergencial como fator eleitoral para reeleição do presidente. Isso vai ampliar a pressão por programas assistencialistas mais amplos, mais obras federais e menos cautela com os gastos públicos.
Saber ler 2020 será fundamental para se preparar para 2022.
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